Eu achava que viva num mundo um bocadinho mais amigo das crianças, num mundo já mais igual de géneros, num mundo em que as crianças eram inocentes, num mundo amigo do meu Gui. Mas tem dias que levo uma chapada na cara para acordar para a realidade. Tem dias que acho um exagero as lutas, manifestos, comunicações que se fazem pela igualdade de géneros, mas pelo vistos ainda há um longo caminho a percorrer, ainda há muito que falar e principalmente ainda há muito a fazer às nossas crianças. Fico pasma com certos comentários vindos de miúdos/as de quatro cinco anos. Sei que é fruto da comunicação, dos próprios desenhos animados, dos brinquedos, mas não será também dos próprios pais?! Quero acreditar que seja sem maldade e sem noção, que nós em casa temos comentários e conversas que os levam a deduzir que só as meninas podem usar rosa, que só as meninas podem brincam com bonecas, quero acreditar mesmo.
Porquê esta conversa, o meu gajo, homem, rapaz, menino, príncipe quer ser Be Boy, anda lá por casa em modo hip hop, são piroetas, saltos, braços à man, é só estilo. Talvez porque o pai é um palhacito e anda sempre a dançar com ele. Perguntei-lhe se ele gostava de ir para o Hiphop, upi upi. Procurei escolas, liguei para várias e todas deram-me a mesma informação para a idade do Gui apenas existe a modalidade dança criativa, porque as outras danças requerem muita coordenação e força muscular que para a idade deles é agressivo. Dança criativa é a base, metade da aula é clássica e outra parte é trabalhar as emoções e criatividade com as crianças. Ok, lá fomos nós para a dança criativa.
O Gui foi entusiasmado, correu super bem, e por coincidência na turma estavam duas amigas da sala dele, o que ajudou bastante a perder a vergonha. No final a professora falou super bem dele, que se tinha portado bem e tinha óptima coordenação. Temos BeBoy!!
Ou melhor tínhamos Beboy, porque pelos vistos a dança é coisa de menina!
Dois dias depois, na hora de deitar, o Gui falou comigo com uma voz muito triste, pediu para não ir mais à dança, porque uma das meninas gozou com ele, ela disse que ballet é só para as meninas, chegou a ser tema de conversa na sala, o Gui anda no ballet... Ficou tão sentido, que o meu coração ficou apertado apertadinho. E ainda disse, mãe posso ir para o futebol? Falamos que a dança é livre para quem quiser dançar, que todos os meninos podem dançar, que nem sempre o que ouvimos está certo, e no dia seguinte vimos vídeos de meninos a dançar. Ele percebeu a mensagem, percebeu tão bem que no sábado voltamos a outra escola e ele dançou, dançou muito e adorou.
Defendo tanto a igualdade de género, como defendo que há coisas que são para meninos e outras para meninas, porque a realidade é que somos diferentes. Não sou de extremos! Nunca vou dizer que não pode brincar com bonecas, mas sei que há partida ele prefere carros de bombeiros e noutros aspectos igualmente. Mas a dança, a dança é livre de género!!
Como posso criar uma criança sem preconceitos, num mundo cheio deles?!
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