Ser mãe trabalhadora não é ser mãe a tempo inteiro?
Confesso que por vezes fico um pouco irritada com esta mania de se rotular as coisas e sobretudo as pessoas.
Depois de toda a revolução sexual do século passado, depois da luta das feministas, depois de tantas mudanças na vida das mulheres e por via disso na sociedade, muito me espanta que atualmente haja uma certa condenação (implícita em opiniões, comentários e até atitudes) das mães que trabalham fora de casa.
Concordo que se condenem os exageros e as mães que negligenciam os filhos em prol de uma carreira profissional (ou em prol de qualquer outra coisa), pois considero que se não estamos dispostas a abdicar de um ritmo de trabalho intenso, não podemos tomar a decisão de ter filhos.
Se optamos por ter filhos temos que lhe dar o que eles precisam: atenção, carinho, tempo…no fundo ser Mãe!
Ora, por outro lado conheço muitas mães que embora trabalhando em casa, ou não trabalhando de todo, nada disso dão aos seus filhos.
Por isso, me custa ouvir que uma Mãe que Trabalha Fora de Casa Não É Mãe a Tempo Inteiro!
Defendo que não devemos generalizar.
Cada mãe é mãe à sua maneira, de acordo com a sua forma de ser e de estar e de encarar a maternidade, nada tem a ver com o facto de trabalhar em casa ou num alto quadro de uma grande empresa!
No meu caso, trabalho fora de casa (e bastante em casa também!!!) e considero-me uma mãe a tempo inteiro!
Mesmo nos dias em que trabalho 12 horas sou mãe a tempo inteiro!
Melhor dizendo: Nunca Deixo de Ser Mãe!
Desde que o meu filho nasceu não houve um segundo que seja que eu tenha deixado de ser MÃE!
Não é um estado de espírito ou uma profissão, é algo que passa a fazer parte do que somos de forma permanente.
Em todas as circunstâncias o meu papel de mãe está sempre presente em paralelo com todos os outros papéis que assumo e é perfeitamente compatível com todos!
Mesmo trabalhando fora de casa tenho tempo para o meu filho!
Tenho de abdicar algumas vezes de horas de trabalho (e por vezes da remuneração correspondente), é certo, mas é uma opção que faço de bom grado!
Outras vezes tenho que abdicar desse tempo com o meu filhote em prol de compromissos de trabalho mais urgentes ou de todo inadiáveis.
Contudo, mesmo nesses dias o pouco tempo que passo com ele é tempo de qualidade, recheado de atenção, mimo e por vezes castigos também (mesmo estando pouco tempo com eles não podemos permitir que quebrem as regras que queremos que aprendam e assimilem) .
No fundo o que quero dizer é que é possível sem uma boa profissional sem deixar de ser uma boa mãe e sobretudo uma mãe presente.
O segredo é saber equilibrar as coisas!
Se me perguntarem se gostaria de estar todo o dia com o meu filho desde momento em que ele nasceu até ele ser um pouco maiorzinho, eu diria que sim.
Mas não quero abdicar de uma carreira profissional, pois gosto do que faço.
Por outro lado, as crianças também precisam ganhar a sua independência desde cedo, precisam de estar com outras pessoas, com outras crianças.
Para além disso, há ainda o futuro…
Os nossos filhos não vão ser pequeninos toda a vida!
Com muita pena nossa, mas não vão!!!
À medida que crescem vão deixando de precisar de tanto tempo nosso até que chega a um ponto em que voam do ninho para construir sua vida!
Acho que os filhos precisam das mães (e dos pais) para sempre, falo por mim!
Mas à medida que crescem deixam precisar tanto do nosso tempo, atenção e dedicação.
Como fica uma mãe que abdicou da sua profissão?
Sabemos bem que nos dias de hoje não é fácil voltar a entrar no mercado de trabalho. E mesmo que consiga regressar, vai estar num nível muito abaixo do que estaria se tivesse continuado a trabalhar.
Inevitavelmente, e por vezes até de forma inconsciente, esta mãe vai sentir-se frustrada, fracassada até!
É possível que se sinta sozinha no seu dia-a-dia, e diria até vazia!
Qual é o seu objectivo, quais serão as suas tarefas?
Este excerto retrata essa mãe:
“Hoje, a Lara é adulta, alugou uma casa e vive com amigos. Tem um namorado, trabalha como enfermeira, é feliz, saudável e alegre.
Hoje acordei e pensei: «E eu? Quem sou eu?»
Continuo a ser mãe, mas já não sou mãe a tempo inteiro. Isso deu espaço para pensar no resto que foi indo com o tempo em que era mãe a tempo inteiro. Deu espaço para mostrar o que fui adiando ou eliminando, pelo encanto e dedicação exclusiva ao desafio da maternidade. Hoje, acho que me esqueci de mim. Hoje, a Lara diz-me para eu me arranjar, pensar mais em mim e investir em coisas que me interessem. Não sei como se faz, tenho receio, acho que já é tarde, já não me conheço, nem conheço quase ninguém, nem mesmo o Rafael.
Hoje, penso que, se voltasse atrás, agarrava da mesma forma especial o desafio de ser mãe, com orgulho, dedicação e empenho, mas não largava tudo o resto.“
Texto incluído no livro A Psicóloga dos Miúdos – Guia Prático para todos os pais
Ser MÃE é a maior benção que a vida nos dá!
Mas não podemos anular as outras facetas da nossa vida.
Não podemos esquecer o resto da família, a nossa cara metade, os amigos nem a nossa profissão.
Não devemos deixar de ser a pessoa que éramos até sermos mães, pois mais tarde poderemos pagar um preço demasiado alto.
Devemos acrescentar a essa pessoa que éramos esta qualidade maravilhosa que é ser MÃE e tanto nos enriquece.
Quanto mais felizes formos mais felizes serão os nossos filhos!
Os nossos filhos merecem mães equilibradas, realizadas e sobretudo FELIZES, tenham ele 1 ano ou 30 anos!!!
Por isso uma das minhas missões é continuar a trabalhar neste equilíbrio, uns dias mais conseguido que outros, não só na minha vida, mas também na vida das pessoas que integram a nossa equipa.
Texto de Rita Cerejo
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