Prevalência, Sintomatologia e Diagnóstico
A depressão pós-parto (DPP) é já reconhecida, em muitos países, como uma questão importante de saúde pública, dada a prevalência e impacto na população feminina. Em Portugal, estudos recentes apontam para o predomínio desta perturbação em cerca de 12.4% das mulheres, na semana que sucede o parto e 13.7% nos três meses seguintes.
Vários fatores de risco têm sido avaliados na predisposição para a DPP. Os dados empíricos apresentam resultados contraditórios a este nível, associados à natureza complexa e multifactorial do quadro clínico. O nascimento de uma criança modifica de forma permanente a vida de uma mulher sendo este período reconhecido como facilitador de uma maior vulnerabilidade e instabilidade mental. Apesar das dificuldades na definição consensual dos critérios de diagnóstico para a Depressão Pós-Parto, esta é integrada pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV) na classificação de Transtorno do Humor, caracterizada pela presença de um episódio depressivo, com início nas quatro primeiras semanas do pós-parto. Alguns autores justificam esta dificuldade com base na perceção da maternidade como um período de altos e baixos, por si só, muitas vezes acompanhado de uma melancolia passageira, conhecida também por maternity blues. Habitualmente, a melancolia pós-parto ocorre por um período breve de até 2 semanas com início até 3-4 dias após o parto. Apresenta um grau de severidade inferior à DPP e uma prevalência superior na população feminina. O humor deprimido é, neste caso, resultado das aterações repentinas dos níveis hormonais mas também da perceção concreta de um novo estatuto e/ou realidade para a puérpera. Num período socialmente assumido como um momento de grande realização, expoente máximo da felicidade de uma mulher e de um casal, torna-se difícil para muitas mães assumir sentimentos e pensamentos contraditórios, assentes em dúvidas e sensações estranhas ao próprio eu. A DPP limita a capacidade da mãe interagir de forma positiva com o bebé e, para além dos possíveis efeitos devastadores ao nível da sua saúde mental, quando não superada, pode comprometer o desenvolvimento cognitivo, comportamental e emocional da criança. Coloca ainda uma sobrecarga nos familiares mais próximos, provocando efeitos adversos na relação marital, com um impacto negativo ao nível da saúde mental do próprio parceiro.
Os sinais e sintomas do estado depressivo variam quanto à forma e intensidade com que se manifestam, estando directamente relacionados com as características de personalidade da puérpera, com a sua própria história de vida e com as mudanças bioquímicas processadas no pós parto.
Os sintomas mais comuns são:
Humor lábil e deprimido;
Alterações do apetite e do sono;
Falta de interesse e prazer por grande parte das actividades;
Cansaço e perda de energia;
Sentimento de culpa ou desvalorização pessoal;
Ansiedade;
Irritabilidade;
Choro fácil;
Perda de líbido;
Dificuldade na aceitação e estabelecimento de uma relação empática com o bebé.
Etiologia e Fatores de Risco
De acordo com grande parte das investigações realizadas no âmbito da DPP, a causa etiológica mais provável para esta perturbação prende-se com as alterações hormonais. O período do pós-parto está associado a muitas alterações neuroendócrinas e de carácter psicossocial cuja interacção estará na base do desenvolvimento da DPP. Os fatores de risco considerados na investigação empírica centram-se numa abordagem multifactorial que envolve aspetos biológicos, hereditariedade, apoio social e acontecimentos de vida relevantes. Existem algumas situações que se podem distinguir como sinais de alerta já que aumentam o risco de uma depressão pós-parto. São elas o historial de depressão pré-natal, a ocorrência de episódios depressivos durante a gravidez, um parto difícil, o baixo suporte social, situação económica ou familiar desfavorável, a baixa auto-estima materna, níveis de stress elevado, dificuldades temperamentais do bebé, o nascimento prematuro do bebé ou problemas de saúde associados.
Tratamento
O tratamento médico da depressão pós-parto deve envolver essencialmente dois tipos de cuidados: o psicológico e o psiquiátrico. A necessidade de tratamento da DPP prendese com o objectivo primordial de melhorar a qualidade de vida das mães e prevenir distúrbios no desenvolvimento do bebé, preservando um bom relacionamento familiar. Ao nível da psicoterapia existem várias opções de tratamento com recurso a técnicas de promoção de competências parentais, manejo do stress, controlo da ansiedade e desenvolvimento da auto-estima. O aconselhamento e terapia conjugal pode ser igualmente útil para o desenvolvimento de estratégias de comunicação e interação eficazes assentes na interajuda e partilha de responsabilidades. Quando os sintomas depressivos são mais severos, necessitam de suporte farmacológico. Muitas mães receiam a dependência de antidepressivos mas quando tomados de acordo com a prescrição médica, não representam esse risco. Este tipo de tratamento exige horários certos e muita disciplina não devendo nunca ser interrompido sem consentimento médico. Quando as mulheres estão ainda a amamentar, devem referi-lo ao seu médico para que a opção farmacológica seja compatível com o aleitamento materno. Neste sentido, a mãe pode consultar o ginecologista que a acompanhou ao longo de todo o período pré-natal e partilhar com ele as suas preocupações e sintomatologia, no sentido de obter o encaminhamento mais adequado à situação. Quando existe intervenção ao nível da DPP, o prognóstico é bastante positivo, considerando a taxa elevada de recuperação total de grande parte das puérperas.
Dicas úteis para as mamãs
Antes do parto procure reconhecer a sua vulnerabilidade para o desenvolvimento da DPP tendo em conta o seu histórico de saúde clínica, histórico de saúde familiar, situação familiar e apoio social. Converse com o seu médico acerca das suas preocupações e esteja atenta aos sinais de alarme. No caso de se aperceber da presença de fatores de risco ou sintomatologia concordante com a anteriormente apresentada, não hesite em falar com o seu ginecologista, no sentido de procurar a solução e o acompanhamento mais adequado ao seu caso.
No período pré-natal evite envolver-se em grandes mudanças ou alterações na rotina. Preocupações em exagero colocam-na sob níveis de stress elevados, responsáveis pelo aumento da ansiedade, associada aos fatores de risco para a DPP.
Mime-se! Não se esqueça de garantir que tem e terá sempre um tempinho para si! Para dar precisa de receber. Aceite toda a ajuda disponível e procure envolver-se em actividades prazerosas e relaxantes. Não se isole! Procure manter-se ativa e em contacto com outras pessoas, por exemplo, outras grávidas e amigas com quem possa conversar e partilhar experiências.
Peça ajuda! Não tem de ser uma super mulher! Quanto mais cedo conseguir ajuda mais fácil e rápida será a recuperação. E lembre-se, a depressão pós-parto não é um traço de personalidade mas uma condição que pode ser tratada.
Encare o reconhecimento dos sintomas e a procura de ajuda como um ato de amor! Um ato de coragem! A origem da DPP pode fugir ao seu controlo mas a o que vai fazer com ela só depende de si!
Texto Dr.ª Carolina Costa
Clínica Psiquiátrica Dr. José Carvalhinho
Telm: 914912129
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