Os tempos modernos são marcados por realidades que até há duas ou três
gerações nem sequer supúnhamos. A separação, divórcio, e reconstituição
conjugal e familiar são hoje um lugar-comum, sem que, contudo, se tornem
momentos menos turbulentos para os mais novos e para os menos novos.
O final da
relação conjugal é, necessariamente, um período atribulado e desgastante para o
casal e, claro, para os filhos. Poderá ser de outra forma? Na realidade, todos
os membros da família precisam de elaborar esta mudança e isso implica gasto de
energia.
Se o adulto
se sente exausto, sem a paciência e disponibilidade de outrora, porque é que da
parte da criança haveria de ser diferente? Com uma agravante… somos nós,
adultos, que ajudamos as crianças a interpretarem as suas emoções e
comportamentos, que as vamos ajudando a regular, a construir um sentido e a
elaborar os sofrimentos. Ora, se estivermos menos disponíveis, se estivermos
nós próprios a elaborar os nossos sofrimentos, e sabendo que a nossa angústia é
sentida pelos filhos… o que fazer?
A forma como
a criança reage perante a separação vai depender em grande medida da forma como
os próprios adultos lidam com esta e os comportamentos que adotam. Em primeiro
lugar, a separação deve ser explicada à criança, de forma adequada, mas sem
minimizar ou ocultar detalhes. Idealmente, ambos os progenitores devem estar
presentes, assegurando que o final da relação do casal não altera a relação com
o filho e que ambos estarão sempre empenhados em fazer o melhor por este.
É importante
que a criança seja ouvida. Ajude-a a verbalizar o que está a sentir, bem como
os seus medos e receios face à separação dos pais. Muitas vezes as crianças
assumem que de alguma forma são responsáveis pela separação ou sentem-se
responsáveis por cuidar do progenitor fragilizado pela separação, o que resulta
em sentimentos de culpa e mal-estar para com o outro progenitor.
Tal como com
os adultos, a criança também precisa de “chorar” o final da relação. Neste
sentido, é expectável um período de alguma depressividade, sendo natural que
apareçam algumas alterações de comportamento – as típicas birras, medos e
inseguranças, zanga e tristeza. Estas manifestações dependem da idade da
criança e das suas características, e passam muitas vezes por queixas físicas.
Em qualquer caso, cabe aos pais acolher e confortar a criança no seu
sofrimento. Não há como compensar, é necessário apoiar.
Lembre-se:
face a uma alteração significativa da dinâmica familiar, será mais preocupante
a ausência de alterações de comportamento e humor do que a sua existência.
Apenas quando estas alterações persistem durante algum tempo ou tomam
proporções alarmantes poderá ser útil procurar apoio. Um psicólogo infantil
poderá intervir tanto a nível de aconselhamento dos pais como com a própria
criança, e funciona como um elemento de equipa que estará disponível a
articular com o pediatra e escola, formando assim uma rede de suporte integrado
que tenderá a ser mais eficaz.
Helena Almeida – Psicóloga Infantil da Equipa Mindkiddo da Oficina de Psicologia
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