No seguimento do post do Little Consultório, em que a Dr.ª Carolina falou de depressão pós parto, pensei que seria bom partilhar a minha história. Não, não tive depressão pós parto, ou será que tive?!
A porta de casa bateu e olhei para aquele ser pequenino e pensei , e agora o que vou fazer contigo, este é um pensamento que nunca, nunca vou esquecer, o que senti naquele momento foi gigantesco.
Quando chegamos a casa não trouxe comigo o amor de mãe, pensei é normal, tenho tantas dores e estou tão "anestesiada" que o instinto e amor que as outras mães falam vai aparecer não tarda nada...
....é Verão, o sol aquece a nossa pele, a nossa alma e coração, estamos felizes, apaixonados e sentimos que somos parte um do outro, foi nesse dia que pensamos em ter filhos e foi nesse mesmo dia que nos esquecemos do assunto, não voltamos a falar nele até o teste dar positivo. Ficámos contentes de dar pulinhos e com medo de ficar sentadinhos :) sorriamos e fazíamos cara sisuda, sonhávamos com o bebé e com tudo o que de novo iria trazer e com o que iríamos perder. Mas tínhamos certeza de uma coisa, este bebé nunca veio para preencher nada entre nós, não veio para me fazer sentir mulher e apaixonada, não veio para conquistar um homem, não veio para nos fazer felizes, porque já o éramos, este bebé veio para nos prolongar, para nos fortalecer enquanto casal, para nos fazer ainda mais felizes. Juramos a pé juntos, que não íamos mudar, que não íamos deixar que ele nos afastasse, que não íamos deixar de sair, viajar, ter amigos, não íamos (e confesso que pensamos isto) ser igual aos outros casais que punham os filhos à frente de tudo. Não, nós queríamos que o nosso filho ficasse ao nosso lado e nunca à frente.
...Foram nove meses de tanta magia, amei. amei muito estar grávida, senti-me tão bem comigo, sempre, todos os dias, achei-me sempre bonita, tinha um orgulho danado na minha barriga, no meu corpo. Não deixei de fazer nada de nadinha, amei, pulei, vivi, chorei, sosseguei.... Noites de Verão compridas, amigos sempre juntos, família que me mimava. Posso já dizer que foram os últimos dias que me senti todos os dias livre e feliz?! Como nunca falamos do assunto com ninguém, adorei a reacção das pessoas, não acreditavam, era tão divertido, mostrava a eco e diziam que tinha tirado da net. Quando mostrei ao meu pai perguntou se estava doente não estava a perceber nada. Ninguém estava a perceber nada, e também não havia nada para perceber, íamos ser país. E???
... a porta bateu, E? e foi o cair do pano, e foi o chão que fugiu, e foi aí que tremi, e que pensei será que vamos conseguir cumprir tudo o que tínhamos prometido e sonhado. Não demorou a perceber que não, que ia ser bem mais difícil do que tinha pensado, que iria definitivamente mudar a nossa vida. Os primeiros dias foram difíceis, mas sempre com o pensamento que ia melhorar, quando as dores passarem vai ser melhor, quando começar a dormir vou descansar melhor, quando o conhecer mais vai ser mais fácil, mas estes dias demoram a vir. Estava exausta, impaciente, sem vontade de ver ninguém, exigia do pai mais do que ele podia, o ar, as luzes, o som do silêncio, tudo me irritava. Quem me conhecia sabia que não estava bem, mas acharam sempre normal e na altura nunca ninguém se atreveu a falar, a perguntar estás bem? Porque achavam normal, porque pensaram que era um assunto só nosso, mas família, amigos perguntem, falem, podem ajudar.
A questões começaram a aparecer, será que era isto que queria, será que algum dia te vou amar da forma como oiço as mãe a falar, será que vou ser capaz de ser tua mãe. Tive dias de querer fugir, de querer dormir o dia todo, de querer não ver ninguém, mas é impressionante como a natureza e a nossa força é capaz de ser maior que todas as nossas dúvidas, aos bocadinhos começo a perceber como lidar com as situações, aos bocadinhos começo a deixar que aquele ser me ame, e aí sim começou a fazer sentido. Comecei a libertar-me da pressão, da vontade de querer tudo como pensava, tudo perfeito. Foi um processo de adaptação, infelizmente comigo o instinto de mãe demorou a aparecer e hoje também percebo que não é bem o que as mães dizem, que há muita infelicidade encoberta que há muitas dúvidas e medos escondidos e que não estou sozinha nesse caminho.
"No dia" que percebi nunca mais ia ter a minha vida de volta, que eu nunca mais ia ser a mesma, que a nossa relação mudou e que isso não era mau, que era crescer, que era ser mãe, que era a vida a andar para a frente e a mostrar o melhor que podia ter, no dia que passei a sonhar a três, nesse dia amei-o verdadeiramente pela primeira vez.
(engraçado escrever e pensar nisto quando estou grávida novamente....)
A questões começaram a aparecer, será que era isto que queria, será que algum dia te vou amar da forma como oiço as mãe a falar, será que vou ser capaz de ser tua mãe. Tive dias de querer fugir, de querer dormir o dia todo, de querer não ver ninguém, mas é impressionante como a natureza e a nossa força é capaz de ser maior que todas as nossas dúvidas, aos bocadinhos começo a perceber como lidar com as situações, aos bocadinhos começo a deixar que aquele ser me ame, e aí sim começou a fazer sentido. Comecei a libertar-me da pressão, da vontade de querer tudo como pensava, tudo perfeito. Foi um processo de adaptação, infelizmente comigo o instinto de mãe demorou a aparecer e hoje também percebo que não é bem o que as mães dizem, que há muita infelicidade encoberta que há muitas dúvidas e medos escondidos e que não estou sozinha nesse caminho.
"No dia" que percebi nunca mais ia ter a minha vida de volta, que eu nunca mais ia ser a mesma, que a nossa relação mudou e que isso não era mau, que era crescer, que era ser mãe, que era a vida a andar para a frente e a mostrar o melhor que podia ter, no dia que passei a sonhar a três, nesse dia amei-o verdadeiramente pela primeira vez.
(engraçado escrever e pensar nisto quando estou grávida novamente....)
Lindo de tão verdadeiro e sincero.
ResponderEliminarEmocionada senti cada palavra, não como partilha de vivência, pois cada mulher tem a sua própria experiência e explosão de sentimentos, mas porque te conheço o suficiente para saber o quanto de ti está em cada linha e entre-linha :)
Num ponto somos semelhantes (será do signo), não é preciso forçar de belo o que é belo por natureza, mesmo que essa beleza tarde em ser apreciada ;)
Beijinho grande :*